Tudo na natureza,
inclusive a consciência, é perfeitamente real: não há absolutamente nada com o
que se preocupar. As correntes da Lei não foram apenas quebradas, elas nunca
existiram. Demônios nunca vigiaram as estrelas, o Império nunca começou, Eros
nunca deixou a barba crescer.
Não. Ouça, foi isso que aconteceu: eles mentiram, venderam-lhe idéias de bem e
mal, infundiram-lhe a desconfiança de seu próprio corpo e a vergonha pela sua
condição social,sexual e racial , inventaram palavras de nojo para seu amor
a outro ser humano, hipnotizaram-no com a falta de atenção , entediaram-no com a
civilização e todas as suas emoções mesquinhas.
Não há transformação , revolução , luta, caminho. Você já é o monarca de sua
própria pele – sua liberdade inviolável espera ser completa apenas pelo amor de
outros monarcas: uma política de sonho, urgente como o azul do céu.
Para lograr abrir mão de todos os acentos e hesitações ilusória da história, é
preciso evocar a economia de uma Idade da Pedra lendária – xamãs e não padres,
bardos e não senhores, caçadores e não policiais, coletores paleoliticamente
preguiçosos, gentis como sangue, que ficam nus para simbolizar algo ou se pintam
como pássaros, equilibrados sobre a onda da presença explícita, o agora-sempre
atemporal.
Agentes do caos lançam olhares ardentes a qualquer coisa ou pessoa capaz de
suportar ser testemunha de sua condição , sua febre pela luz e prazer. Estou
desperto apenas no que amo e até o limite do terror – todo o resto é apenas
mobília coberta, anestesia diária, merda para cérebros, tédio sub-réptil de
regimes totalitários, censura banal e dor desnecessária.
Avatares do caos agem com espiões, sabotadores, criminosos do amor louco, nem
generosos nem egoístas, acessíveis como crianças, semelhantes a
bárbaros, perseguidos por obsessões, desempregados, sexualmente perturbados,
anjos terríveis, espelhos para a contemplação , olhos que lembram flores,
piratas de todos os signos e sentidos.
Aqui estamos, engatinhando pelas frestas entres as paredes da Igreja, do
Estado, da Escola e da Empresa, todos os monólitos paranoicos. Arrancados da
tribo pela nostalgia selvagem, escavamos em busca de mundos perdidos, bombas
imaginárias.
A última proeza possível é aquela que define a própria percepção , um invisível
cordão de ouro que nos conecta: dança ilegal pelos corredores do tribunal. Seu
eu fosse beijar você aqui, chamariam isso de um ato de terrorismo – então vamos
levar nossos revólveres para a cama e acordar a cidade à meia-noite como
bandidos bêbados celebrando a mensagem do sabor do caos com um tiroteio.
(Anarquismo ontológico : "Hakim Bay" )
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